
Pedagogia para a Covid-19
Publicado em 19/05/2020 às 17:27
Por Bartolomeu Barros Jr.
Senhores diretores e diretoras,
coordenações pedagógicas, responsáveis e estudantes.
Permitam-me tratar
de um assunto que cabe a toda comunidade escolar, pais, serviços de apoio e
alunos. Ao mesmo tempo em que os convido para o debate. É preciso reconhecer
cientificamente do que se trata uma pandemia. Em especial, a que estamos
constatando enquanto um enorme problema de saúde pública. O novo coronavírus
traz um efeito biológico e social amplo e duradouro. As pesquisas já
realizadas, a expectativa de uma vacina e as experiências das primeiras cidades
que sofreram com a covid-19 na China nos apontam que estamos longe do controle
da situação. Diante deste cenário não é possível querer e prever um ano letivo
nas mesmas condições que tivemos até então.
Houve alteração
completa das nossas relações sociais e de convivência institucional e
ambiental. Caso pensemos em uma educação de qualidade para nossos filhos será
preciso um processo educativo totalmente diferente do que temos. Espera-se que
devemos produzir e conhecer novas maneiras de nos relacionarmos e aprendermos.
É claro que temos um ambiente virtual de ensino-aprendizagem bastante
consolidado e com resultados consideráveis, como a EaD (Educação a Distância),
mas por ser uma modalidade de ensino legítima, não quer dizer que esteja
disponível para aplicação em todos os níveis de ensino, todos os perfis de
público, pronta para dar conta de especificidades dos campos de saber e
disponibilidade tecnológica.
Surge uma pergunta:
se esta pandemia fosse há 20 anos? Teríamos assumido que tipo de perda?
Neste cenário,
alguns gestores estão perdidos pelo impacto dessa catástrofe ou estão ansiosos
pelas oportunidades de lucros nas crises. É aqui que este cenário fica mais
difícil de ser encarado. Pois não basta transferir todo processo educativo para
uma modalidade não presencial. O saldo dessa estratégia menos pedagógica e mais
empresarial tem analogias com as disputas dos que querem abrir todo o comércio
em detrimento dos riscos à saúde e a vida dos trabalhadores. São decisões que
não devemos permitir erros, especialmente por debatermos com uma contradição,
educação (pedagogia) é o oposto de isolamento.
As famílias não
possuem estruturas, nem acervo pedagógico e emocional que substitua o professor
e os colegas de classe. Aliás, a pandemia é uma oportunidade para valorizarmos
o papel desses profissionais que fazem parte das necessidades básicas da
população, como os da saúde e da segurança. Esses professores já estão em
pesquisas para os novos desafios de sua profissão, pois já sentem o efeito dos
problemas laborais no distanciamento social. O que pode revelar assédios em
relações de trabalho remoto com a gestão, além da ampliação de suas obrigações
e comprometimento de seu cotidiano de quarentena com a família. Por outro lado,
os pais, avós, responsáveis já sofrem com essa imposição de uma pedagogia do
imediatismo. Além da ameaça da doença estamos obrigados a conviver com pressões
de metas caducas e postas agora sobre uma rotina insegura.
Precisamos agir de
imediato e impedir soluções que parecem querer mais garantir a economia da
escola ao invés de pensar propostas de acordo com os efeitos da pandemia na
vida dos professores, estudantes e suas famílias. Neste contexto é preciso
identificar, também, as relações e as disputas que ocorrem no interior dos
conselhos de educação e o lobby de empresas e o mercado educacional.
Nossos filhos não
estão aprendendo nada com esses improvisos e descasos mediados por uma
comunicação precária a distância. Nossos professores não merecem se desdobrar
no escuro pelo desconhecimento dos métodos e da didática desvinculada dos nexos
necessários para se compreender e explicar os conhecimentos e a realidade para
os alunos. As famílias não possuem equipamentos suficientes e de qualidade para
atestar a EaD.
Os jovens que estão
na iminência dos exames vestibulares e o ENEM 2020 precisam ter iguais
condições de participarem. Para tanto, é necessário urgente adiar o calendário
de provas e oferecer segurança psicológica aos candidatos.
É preciso que
encontremos formas de superar todos os problemas na perspectiva da solidariedade,
do acolhimento e no compromisso com a qualidade da formação. Não estamos
vivendo uma oportunidade para meritocracia e performance. Estamos vivendo sobre
um ritmo social diferenciado e sui generis. Que deverá ter efeitos traumáticos
em todos nós.
Devemos acolher as
proposições de pesquisadores sérios e entidades que defendem uma educação de
qualidade para todos. Sugerindo soluções que se importam com a vida, com a
família, com os contextos de desigualdades e com uma sociedade democrática. E
indicar para os pais, estudantes, gestores e o legislativo que há outras
alternativas. A exemplo das publicizadas pelos
https://avaliacaoeducacional.com/ e http://pansophia.org/#.
Bartolomeu Barros Jr. é pai de três estudantes na educação básica, professor do IF Sertão-PE e ex-dirigente do Sinasefe IF Sertão-PE.