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Artigo: Os desafios da Luta Sindical

Artigo: Os desafios da Luta Sindical

Publicado em 19/04/2021 às 17:40

Por Márcia Farias de Oliveira e Sá
 

Falar de uma história do movimento sindical no Instituto Federal nesse momento em que estou à frente da coordenação geral é um peso ainda maior. O peso da responsabilidade representativa num tempo tão adverso como o que vivemos nessa segunda década do século XXI. Onde a extrema direita assume o poder e um vírus que devasta o país. É tempo de pandemia, de Fake News, de desmonte da concepção de trabalho e trabalhador. Onde o sindicato fica? Qual o seu lugar e seu papel?

A luta de classes remonta ao desenvolvimento do sistema capitalista que fica mais evidente quando da revolução industrial na Inglaterra, então potência econômica do Norte. Lá, em consonância com outros países europeus, vão surgir dois movimentos importantes: o sindicalismo e o socialismo.
O sindicalismo inicia a luta pelo direito dos trabalhadores, salários dignos (faz- se a equivalência que o salário diário do trabalhado fabril era o suficiente para comprar pão e leite apenas, o equivalente hoje a algo em torno de R$ 10,00), jornadas de 8h (ao contrário das 16h), a não substituição pela máquina. Essas lutas foram se agregando a outras ao longo da história.

O socialismo, ideia nascida do seio do cristianismo (vide Owen) que não concebia uns com tanto e outros sem nada, leva a criação de comunidades alternativas baseadas na produção e usufruto dessas produções. Somente alguns anos depois essas ideias serão conceituadas por Marx e Engels na famosa e desconhecida obra “O capital”. A máxima do manifesto Comunista de que os trabalhadores do mundo devem se unir, é um fantasma que ainda hoje assombra os grandes capitalistas.

Ao longo da segunda metade do século XIX e no XX os movimentos tomam outros rumos, como o movimento anarquista, avesso a qualquer forma de autoridade, além da incorporação de novos grupos de trabalhadores ao cenário da luta. Não mais apenas os trabalhadores da indústria, mas os intelectuais nos quais os da educação se inserem.

A era Vargas, num desmonte dessa estrutura recém nascida no Brasil, a partir dos imigrantes principalmente italianos cria um sindicalismo pelego e na tutela do estado, uma forma de desprestigiar o sindicalismo e ainda coloca os partidos comunistas na ilegalidade, criminalizando e demonizando estes. As grandes greves do setor industrial que na primeira década do século XX (as mais contundentes de 1910 e 1917), demonstram um caráter organizativo e combativo nunca visto numa nação que sequer era ainda industrializada. O medo das elites oligárquicas desses grupos marginais que fazem diversas revoluções seja no campo ou na cidade, desencadeiam na ascensão de um governo que mesmo nacionalista era excessivamente ditatorial.

O medo dos comunistas tomarem o país, que nasce na propaganda getulista dos idos de 1937, será reforçado durante a guerra fria e a ditadura militar. A noção de direitos sociais, liberdade, associativismo, não importa de onde vem, afinal muitos desses conceitos são de origem liberal, reforçam as máximas “demonizantes” de que tudo isso é comunismo, que a luta é baderna. Inclusive a lógica da teologia da libertação, que faz uma opção preferencial pelos pobres é encarada também como sendo comunista. Mesmo que os ensinamentos cristãos sejam anteriores ao capitalismo.

O processo de abertura política nos anos 80 do século XX vem, no entanto, as marcas do passado ditatorial permanecerem. O líder sindical é o responsável pelo sucesso ou fracasso da luta. As bases vão paulatinamente se afastando do espaço sindical, apenas as greves em dado momento ainda agregam. O sindicato é um lugar de obter benefícios pessoais, pois a lógica individualista do capital nos faz pensar assim. Além disso, criar hierarquias entre os grupos de trabalhadores e chegar ao serviço público federal é o ápice de uma luta. Não tem o mesmo glamour do judiciário, mas nos coloca numa escala diferenciada.

Foi ao chegar nesse patamar em 2011 que busquei o sindicato. Vinha de uma experiência de 15 anos de luta no Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Pernambuco (SINTEPE). No momento a representação era feita pelo SINDSEP-PE (Sindicato dos Servidores Públicos Federais no Estado de Pernambuco), não consegui naquele momento localizar os representantes, era muita coisa para entender e absorver naquele período, incluindo compreender as lutas. Depois chega o SINASEFE ainda vinculado ao IFPE Recife, ao qual a instituição também já havia sido parcialmente vinculada quando a época do CEFETE.

Em 19 de abril de 2013, nasce a nossa seção sindical, para a qual migrei assim que pude. Nesse momento havia uma filiação sindical a CONLUTAS. A luta sindical é política e em muitos momentos não concordava com a forma de luta, mas enfim nos separamos.

Ao longo dos anos no movimento sindical a experiência foi paulatinamente me fazendo ter uma nova percepção do trabalho, do mundo e de mim mesma. A tradição cristã em mim construída nos moldes teológicos do concílio Vaticano II e a opção preferencial pelos pobres é um compromisso religioso e político. A defesa dos menos favorecidos e a sua elevação social só se dará por meio de uma educação pública, gratuita e de qualidade. Essa é a luta dos trabalhadores em educação, é salário, também, mas acima de tudo compromisso com os filhos da classe trabalhadora que são a esmagadora maioria dos alunos do IF bem como seus trabalhadores que também são filhos dessa mesma classe trabalhadora.

Na máxima de Jesus Cristo de que “eu vim para que todos tenham vida e vida em plenitude”, eu como sua seguidora vou em frente na luta. Por dias melhores onde os pequenos serão exaltados.

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Márcia Farias de Oliveira e Sá
IF Sertão PE – Campus Salgueiro

 


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