Opinião: A alienação do trabalhador
Publicado em 28/10/2022 às 19:47
* Por Prof. Orlando Silva de Oliveira - Campus Salgueiro
Foi criada uma cultura que desfigurou a percepção que o brasileiro tem de si próprio. Nessa cultura, o brasileiro trabalhador (público ou privado) não se identifica mais como trabalhador, tiraram-lhe essa capacidade de percepção. Ao invés disso, o trabalhador tem maior identificação com outros estratos da sociedade, principalmente aqueles de forte apelo ideológico.
A classe que tira proveito do Estado doutrinou, através dos seus diversos dispositivos de poder, a mente do trabalhador, fazendo-o, por meio da ideologia dominante, ter ódio da sua própria classe, não participando do usufruto das riquezas que produz. Para conseguir tal feito, aqueles que se beneficiam do Estado, utilizaram a mídia, a religião, a educação, a política e a arte. Fizeram com que o trabalhador de aplicativo se enxergasse como empreendedor, e lhe tiraram a carteira de trabalho e todos os seus direitos.
Fizeram com que o trabalhador que tem fé se entendesse somente como cristão, esquecendo que é da sua qualidade de trabalhador que vem o pão de cada dia, e lhe tiraram o poder de compra do salário. Fizeram o trabalhador acreditar na “mão invisível do mercado”, e lhe tiraram a aposentadoria. Fizeram o trabalhador idolatrar o sistema de repressão policial, e lhe tiraram a capacidade de protestar por direitos.
Fizeram o trabalhador desacreditar da política, fazendo-o escolher aqueles políticos que se apresentam como “não-políticos”, como outsiders, e lhe tiraram o poder da representação.
Hoje, quando o trabalhador brasileiro (precarizado) tem que escolher um representante para garantir minimamente uma vida digna, seus direitos de trabalhador, ele escolhe alguém que faz uma dancinha na propaganda política, que conta piada em vídeos nas redes sociais, que fantasia a realidade com histórias para amedrontar adultos, ele elege aqueles que dizem que vão destruir o sistema, mas que são apenas cria dele.
Tornaram a imagem do trabalhador monstruosa, grotesca, desfigurada, fazendo com que ele, o trabalhador, rejeite em si próprio, rejeite a sua condição de trabalhador. Fizeram o trabalhador amar o agro, o coach, o app e a odiar a sua classe. Foram anos e anos doutrinando o trabalhador a ter ódio de si e a amar aqueles que usufruem do suor do trabalho alheio.
Chegamos ao ponto de que não é mais possível usar palavras que lembrem ao sujeito de que ele é trabalhador, pois muitos irão se revoltar com qualquer semântica que os faça lembrar minimamente do que realmente são: trabalhadores.
A falta de consciência de classe faz o trabalhador lutar contra si próprio.